16 de agosto de 2009

Entrevista: A crise chegou de fato no Brasil?

No Brasil - A crise chegou de fato no Brasil? O impacto dela aqui foi menor do que calculava a esquerda?

No Brasil - A crise chegou de fato no Brasil? O impacto dela aqui foi menor do que calculava a esquerda?
Adriano Benayon

Sim, a crise chegou, embora menos violentamente, porque os bancos brasileiros ganham muito com os juros mais altos do mundo e só em parte não muito grande se meteram em títulos tóxicos no exterior. Mas as exportações caíram muito, a produção industrial decresceu significativamente, algo como de 8% a 9% em um ano. O emprego, que já não era satisfatório, também caiu. A questão também é que, como já havia muito desemprego e muito subemprego, quando as coisas pioram aqui não se nota tanto como em países nos quais, antes, as condições de vida eram bem menos ruins.
Fábio Bueno
Sim, a crise chegou e apresenta até o momento três importantes características sob o ponto de vista do capital: primeiro, apresentou grande intensidade no último trimestre de 2008, com quedas recordes do nível da atividade econômica e aumento do desemprego, intensidade esta não mantida posteriormente. Segundo, concentrou seus efeitos em dois setores da economia, o da indústria da transformação (mais especificamente bens de capital e bens de consumo duráveis) e das exportações (sobretudo manufaturados e commodities), os quais até o momento apresentam as maiores retrações de produto e aumento do desemprego. Ou seja, não foi uma crise geral, mas sim parcial. Terceiro, algumas mudanças estruturais recentes na burguesia e no Estado brasileiro atuaram como "mecanismos amortecedores" neste período de crise. Dentre eles, cabe destacar uma burguesia fortalecida economicamente por um intenso processo de centralização de capitais iniciado na década de 1990, cujos últimos episódios foram a fusão do Unibanco e Itaú e da Perdigão com a Sadia; uma burguesia ligada ao setor bancário que foi reestruturada por programas de auxílio estatais na década de 1990 e que se valeu primeiramente da compra de títulos públicos rentáveis e depois da concessão de crédito a altas taxas, não aplicando grandes somas nos derivativos que tanto afetaram os bancos internacionais; um intenso processo de internacionalização da burguesia, não só pela elevação do montante de exportação para níveis recordes na história brasileira, mas por iniciarem um intenso processo de investimentos no exterior, cuja forma mais visível é o crescimento no número de empresas locais classificadas como transnacionais.
Por fim, e não menos importante, as reformas neoliberais parecem ter obtido êxito em remodelar o Estado para o atendimento pleno dos interesses dessa nova configuração da burguesia: acúmulo de reservas internacionais, dívida pública extremamente rentável, superávits fiscais para assegurar pagamento de juros, livre mobilidade de capitais, câmbio flexível e políticas sociais focalizadas permitem que o Estado atue como um "dique de contenção" dos efeitos da crise até o momento, garantindo programas de ajuda para todas as frações da burguesia local e internacional.
Do ponto de vista do trabalho, a crise foi muito mais dura do que do ponto de vista do capital: aumento das taxas de desemprego e um coordenado movimento de retirada de direitos trabalhistas. Os efeitos não foram ainda piores devido à combinação de elevação do salário mínimo, programas de transferência de renda, manutenção da massa salarial e valorização cambial, que impediram o aumento da pobreza na mesma intensidade que em crises anteriores. Porém o movimento de flexibilização de direitos desses meses tende, pela movimentação da burguesia, a não se configurar apenas como medidas temporárias de exceção, mas como padrão para daqui em diante.
José Carlos de Assis
É claro que a crise chegou ao Brasil, fortemente, ainda no ano passado. A queda do PIB no último trimestre do ano foi de 3,6%; no primeiro deste ano, de 1,5%. A indústria despencou 14% e a indústria de bens de capital se contraiu 25%. O desemprego se expandiu rapidamente e, pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), cerca de 650 mil empregos com carteira assinada foram destruídos em dezembro. Houve alguma recuperação posterior, mas ainda longe de compensar essa perda. A taxa de desemprego, que em 2008 tinha chegado ao seu nível mais baixo mensal de 7,6%, saltaria para 9%, embora caindo agora para 8,1%.
Creio que não só a esquerda mas boa parte dos intelectuais e políticos brasileiros e mesmo de fora não entendeu ainda essa crise como a quebra de um paradigma secular, ou seja, o colapso total e definitivo do liberalismo econômico. Essa crise revelou a falácia do livre mercado e da auto-regulação como ordenadores do mundo. Entretanto, viu-se a crise, e ainda se vê, como uma repetição de ciclos convencionais do capitalismo. Não é. O liberalismo colapsou não apenas na economia, como no princípio de liberdade de produção sem limites, degradando irreversivelmente a natureza, e mesmo na Geopolítica, na medida em que, dentro da realidade nuclear, estabeleceu-se também um limite para a liberdade dos Estados de fazer a guerra.
Leda Paulani
O Brasil sofreu consequências, tanto que vinha num crescimento de 4 a 6% ao ano e agora, na melhor das hipóteses, o crescimento vai ser 0,5%. Além disso, houve impactos em empresas que se envolveram em operações com derivativos. Houve também uma redução de crédito forte no início. Mas esses impactos foram se reduzindo; um dado é que a crise pegou o Brasil na segunda gestão Lula onde a proposta era impulsionar gastos públicos. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já estava aí; a isso se agregaram outras iniciativas, como o programa de habitação [Minha casa, minha vida], ainda que operado por empresas privadas. Isso tudo acaba arrefecendo um pouco as consequências da crise. Outro dado é que a moeda brasileira foi a que mais desvalorizou dentre os chamados países emergentes, no início da crise. E agora é uma das que mais valorizou. Então, ainda que tenha alguma recuperação, o sistema está à flor da pele: qualquer coisinha detona uma nova crise de confiança. O que se pode dizer hoje é que as causas da crise continuam e que o entorno institucional que provocou essa crise, criado a partir da década de 1970, continua o mesmo e não vai se alterar de um dia para outro.
Sérgio Lessa
Claro que chegou. Quanto à segunda parte da pergunta, cabe duas considerações: menor do que o quê? Ela foi menor do que as previsões que todos faziam (inclusive The Economist, New York Times, etc.) em outubro ou novembro passados. E as perspectivas catastrofísticas de um certo marxismo vulgar também não foram confirmadas.
Todavia, nesse quadro, a esquerda tem acertado muito mais consistentemente, talvez apenas não tão consistentemente quanto os erros da direita neoliberal. O sistema do capital apenas pode se reproduzir aprofundando a crise e as suas características mais destrutivas – e apenas sua superação pelo modo de produção comunista pode revogar suas causas mais profundas: nisso a esquerda está certa, muito mais certa do que as previsões do futuro feitas pelos teóricos neoliberais e/ou do fim da história.
Quanto ao impacto no Brasil, parece-me que tem um duplo aspecto. Por um lado, ampliou as margens de manobra do subimperialismo brasileiro, gerando a ilusão de uma ascensão do país tupiniquim entre "os grandes" – por outro lado, cobrou uma transferência maior de recursos do país para o centro do sistema, pela sangria dos investimentos estrangeiros e pela desvalorização do dólar, moeda na qual temos a maior parte das reservas internacionais. Internamente, uma nova rodada de ajustes produtivos (mais controle sobre os trabalhadores, maiores jornadas e ritmo de trabalho ao lado de desemprego) foi realizada já no final do ano passado, com todas as conhecidas conseqüências danosas.
Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis

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