1 de novembro de 2008

“Temos que nos preparar para acontecimentos convulsivos”

ENTREVISTA COM CHRISTIAN CASTILLO

Publicamos abaixo entrevista concedida por Christian Castillo, dirigente nacional do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS), organização irmã da LER-QI na Argentina, onde ele apresenta primeiras considerações sobre as perspectivas políticas a partir da crise capitalista internacional.

LVO: Quais perspectivas você acha que devemos ter a partir da crise internacional?

A crise mundial do capitalismo que está em pleno desenvolvimento terá conseqüências profundas que marcarão os próximos anos. Estamos presenciando um giro de características históricas. Recordemos que quando comparamos com a crise dos anos 1930, estamos falando de um processo longo, que começou com o crack de 1929, a partir do qual ocorre uma queda muito forte da produção até os anos de 1932 e 1933, e que os capitalistas “resolvem” rumando para a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha com o nazismo coloca em marcha uma economia de guerra e militarização e absorve os altos níveis de desemprego. Os EUA implantam o New Deal, mas também chegam ao fim da depressão econômica com 25% de desemprego. Somente quando transforma a economia norte-americana em economia de guerra (War Deal) os índices melhoram. Desde já, nem tudo será igual, não são os mesmos os pólos de poder mundial, mas estamos falando de um período de uma magnitude desse tipo. Quando falamos que pode haver uma depressão nos EUA significa que o desemprego pode saltar dos 6% atuais a 13%, 15% ou mais. Isto vai provocar conseqüências na luta de classes e mudará radicalmente o estado de ânimo das massas por conta da crise no principal país capitalista do mundo.

Queremos dizer que a crise afetará a todos os países, ainda que os ritmos e a profundidade da crise não se manifestem homogeneamente. Isto já é evidente na Europa, que já aparece como um elo débil da economia mundial. Até a “grande potência” China exporta 40% de toda sua produção aos EUA, o que faz com que um dos países que despontou como pulmão, como motor da economia mundial dos últimos tempos, vá sentir sem dúvida alguma o impacto. As moradias em Xangai já haviam se desvalorizado em 30%, onde havia também uma espécie de bolha imobiliária; na China possivelmente as tensões sociais se agravem.

LVO: É senso comum dizer que o capitalismo se regenerará com maiores regulações do Estado ao capital financeiro.. .

Os Estados estiveram e estão a serviço de defender os lucros dos capitalistas e não a serviço de satisfazer as necessidades sociais. Esta ficção de que o Estado representa o bem comum na sociedade capitalista também vem abaixo. Todos, não só os EUA, mas também os países da Europa, tentam resgatar os grandes banqueiros e monopólios, quase para confirmar ao pé da letra a definição de Marx de que os Estados são “uma junta que administra os negócios comuns de toda a burguesia”. Paulson, o arquiteto da mega-salvação de 700 bilhões de dólares, foi presidente do Goldman Sachs. McCain e Obama são da elite tradicional, obviamente com matizes, mas representam a continuidade da mesma oligarquia financeira; um com um discurso de conservadorismo moral no caso dos republicanos, e outro com um discurso mais de centro-esquerda ou “liberal”, como é chamado na linguagem política norte-americana. Outra coisa é que muitos dos votantes de Obama tenham ilusões em que este traga uma mudança.

As administrações anteriores dos EUA estavam todas ligadas a estes cinco grandes bancos de investimento que agora desapareceram totalmente do mapa. São as instituições que fazem a pontuação do risco país da Argentina, ou as qualificações do investment grade do Brasil, que agora, ainda por cima, os castigam com a fuga de capitais. As campanhas dos dois, republicanos e democratas, foram financiadas por eles. O bipartidarismo norte-americano representa um interesse basicamente comum. O principal diretor do Lehmann Brothers foi indenizado com 350 milhões de dólares graças aos democratas e aos republicanos. Davam a ele a saída: quebras generalizadas e o cara sai com as maletas cheias. Estes “pára-quedas de ouro” foram o motivo, por conta do repúdio popular que gerou, de uma das grandes discussões do resgate que foi votado pelo Congresso norte-americano. É tudo um grande desmascaramento. É neste sentido que, ideologicamente, esta crise pode ter um impacto similar, mas em sentido contrário, ao da queda do Muro de Berlim para nós que levantamos a luta pelo socialismo, quando Fukuyama e tantos outros chegaram a dizer que era o fim da história e que não havia alternativa ao capitalismo. Hoje ficará colocada a pergunta na mente de milhões: por que temos que continuar vivendo em um sistema que provoca crises recorrentes e nos manda cada vez mais à bancarrota e à miséria?

L: O “fim do capitalismo”...

O capitalismo não se acaba sozinho, não morre de morte natural, é preciso derrotá-lo. Mas crises desta envergadura alteram as condições de estabilização do sistema, e quando isso ocorre se abrem cenários de luta de classes e de lutas entre Estados muito agudas, incluindo, com certeza, as guerras. A crise dos anos 1930 abriu caminho a revoluções como a guerra civil espanhola, ou às grandes ocupações de fábrica na França em 1936. E levou também a fenômenos aberrantes como o nazismo: Hitler é um filho direto da crise dos anos 1930, e também suas conseqüências na Alemanha o são.

Agora, alguns grandes capitalistas continuam fazendo negócios, não se trata do fato de que todos perdem. Isso está acontecendo com alguns banqueiros que dizem: “o momento de comprar é agora”, ou seja, das crises se deriva uma maior concentração e centralização de capital; se o capitalismo não é derrotado, ressurge com maior agressividade. Surgirão também setores mais à direita, mais fascistas. Não nos esqueçamos que a sociedade dos EUA é muito polarizada, na qual existem grupos muito reacionários. No caso da Europa, Sarkozy na França ou Merkel na Alemanha chegaram ao governo com o dever de avançar com o desmantelamento das conquistas sociais que puderam se manter. Justamente Sarkozy subiu ao poder com esse discurso, mas também foi atingido por uma forte crise, na população cresce a desconfiança nos partidos tradicionais, uma mudança que ocorre porque vacila a idéia de que o capitalismo continuaria crescendo. “Trabalhar mais para ganhar mais” era o discurso de Sarkozy contra a conquista da semana de trabalho de 35 horas. Ou seja, haverá tensões sociais muito fortes que vão tensionar à esquerda e à direita a partir desta crise.

Insisto, se novos tempos vierem, que se delinearão a partir de como atuará a classe dominante para superar esta crise e das respostas das massas, será um período em que vão se mostrar diante de milhões em todo o mundo a irracionalidade deste sistema social. Já nos EUA temos centenas de milhares de habitações vazias e gente vivendo nos parques, o que se chama de “cidades barracas”, acampando nas periferias das cidades, às vezes em traillers ou em automóveis. E vamos ver outras irracionalidades como fábricas que permanecerão fechadas com milhares de desempregados. Como o que nós argentinos vivemos em 2001 e 2002 com a incongruência de ser um país que produz alimentos para mais de 400 milhões de pessoas, e que vinham barcos da Espanha com cargas para acalmar a fome da população. Veremos a irracionalidade de todo um sistema social que alguns querem encobrir, e nós que, pelo contrário, acreditamos que precisamos derrubá-lo e dar lugar a outro tipo de organização social baseada na propriedade coletiva dos meios de produção, orientada a satisfazer as necessidades sociais, não para alimentar os lucros dos monopólios que controlam a economia mundial.


LVO: Como dizem os cartazes do PTS: “O capitalismo não dá mais, que governem os trabalhadores”...

Lançamos esta campanha de agitação política diante de uma guinada estratégica do mapa político internacional. Insisto, o impacto ideológico vai ser muito forte e nós, que sempre dissemos que é necessária a luta revolucionária por um sistema socialista e que o capitalismo é um sistema que está sobrevivendo para além de suas possibilidades, vamos encontrar novos ouvintes e novas forças militantes. Milhões vão iniciar um caminho de experiência com a crise, pois tentarão descarregá-la sobre as costas do povo, contra a qual haverá resistência e que apresentará, como em toda crise, oportunidades revolucionárias. Estas crises provocam fenômenos novos, impensados até então. Nos EUA nos anos 1930 houve um movimento de desempregados de enorme envergadura com um nível de organização e ação maior do que vimos na Argentina. Ocorreram ações de sindicatos radicalizados, houve o surgimento de uma nova central sindical como a CIO onde se organizavam os trabalhadores negros, porque antes os sindicatos eram tão racistas que não deixavam se organizarem; e foi um período de grandes greves industriais.

Nos EUA em 1999 já se deu um sinal: o novo movimento antiglobalização em Seattle, e as marchas que tornaram visível um nível de mal-estar com o que havia sido a onda globalizante dos anos 1990. Ou o grande 1º de maio de dois anos atrás, de onde saíram todos os imigrantes ilegais a uma paralização contra a precarização e pela legalização. Na Europa é onde há mais tradição de luta do movimento de massas. Os golpes do neoliberalismo também foram sofridos na Europa com intensidade, mas houve mais resistência desde a greve geral dos estatais em 1995 na França até as rebeliões da juventude estudantil e dos subúrbios. Há dois dias ocorreu na Bélgica uma greve geral muito importante pelo aumento dos salários diante da carestia de vida; um país que não se caracteriza pelas paralizações gerais. Em nosso continente temos o caso do México, um país diretamente afetado por sua integração ao mercado norte-americano mediante o TLC, onde estamos vendo novamente rebeliões de professores em vários estados, como em Morelos, com métodos radicalizados que lembram o início da luta em Oaxaca há dois anos atrás.

Ainda estamos em um primeiro momento onde pesa o abalo diante do que fazer frente ao que se vai perder, de incertezas sobre como a crise vai afetar. Mas haverá um segundo momento onde se colocará a necessidade de organizar-se e de lutar. Esse segundo momento vai marcar os cenários possíveis da crise que se iniciou. Não nos esqueçamos que na Argentina a crise capitalista que vivemos há 7 anos deu lugar ao surgimento de atores sociais completamente novos, como o movimento organizado dos desempregados, o fenômeno operário profundo das gestões operárias de fábrica e as assembléias populares em setores das classes médias. Vamos assistir a novos movimentos e expressões da luta de classes porque o desemprego será multiplicado, a falta de habitações e a fome vão ser coisas generalizadas. O que não se pode pensar é que isto é algo que vai passar rápido. Há um dado muito interessante: das 10 recuperações mais fortes da Bolsa na história de Wall Street, 9 ocorreram durante a Grande Depressão dos anos 1930. Ou seja, que não temos que nos perder nos movimentos conjunturais, ainda que os estudemos muito cuidadosamente. É preciso ter a perspectiva de uma situação de longo fôlego e acontecimentos convulsivos. Nós revolucionários temos que ter a mente aberta e nos prepararmos para novos fenômenos políticos e da luta de classes. E preparar-se significa dar passos na construção de fortes partidos revolucionários, socialistas e internacionalistas.

Traduzido por Luciana Machado

Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis

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