6 de setembro de 2008

DO REFORMISMO A GESTÃO DO CAPITAL

Editorial do Jornal Socialismo Libertário n. 11


Com o tempo não havia mais adequação possível: ou se escolhia a via eleitoral ou se escolhia a revolução e o socialismo. Entre aqueles que escolheram a via eleitoral uma espécie de timidez e de oportunismo fez com que parte deles ainda mantivesse o socialismono programa, logicamente descaracterizado de qualquer conteúdo socialista de fato; nestes casos o socialismo ficou relegado apenas a um vago conceito de justiça social, de melhor distribuição de renda ou ainda de uma “socialização das oportunidades” para todos, ou seja, o socialismo tornou-se quase sinônimo de liberalismo. Outros setores mais corajosos simplesmente renegaram o socialismo sem meias palavras e aderiram francamente à social-democracia ou ao (neo) liberalismo.A crise política desencadeada com a maré de corrupção chegou para abalar o PT sendo seus impactos visíveis no conjunto da esquerda. Na esteira desta crise vieram as diferentes análises de organizações políticas e movimentos sociais de esquerda.
A análise necessária as vezes é dolorosa, coloca em cheque toda uma formação política, antigas concepções, desconstrói um universo de referenciais teóricos e de militância muito arraigados que durante muito tempo não apenas pareciam funcionar, mas davam conforto e transmitiam segurança. É uma tarefa difícil eneveredar pelo caminho de uma verdadeira e profunda análise da crise política que para muitos militantes, não apenas petistas, tem reflexos na vida pessoal, tornando-se quase uma crise existencial. Não são apenas os corruptos petistas que sumiram, a decepção “desapareceu” com muitos militantes que se encontram presos em suas casas, quase clandestinos, fugindo dos espaços sociais, do debate, como quem fugia da repressão na ditadura. Outros simplesmente cansaram depois de ver um projeto de mais de 2 décadas afundar na lama.
Nesse rebuliço que se instala na esquerda vemos desde as tentativas sinceras de analisar a realidade até as mais oportunistas táticas de quem deseja aproveitar a deixa para se construir sobre a desgraça alheiarepetindo os mesmos vícios e problemas que estão na origem da derrocada petista. Só há um problema: se a análise não for bem feita e os problemas reais identificadosos erros serão repetidos, quer como farsa, quer como tragédia.
Pretendemos aqui dialogar com os setores da esuqerda e dos movimentos sociais que se posicionam criticamente na atual conjuntura e que estão em busca de uma nova alternativa. Esclarecemos que quando falamos do PT neste texto estaremos nos referindo à linha política predominante e praticada majoritariamente pelo partido e não fazendo a crítica ao valor individual de cada militante ou corrente minoritária.
A degringolada petista para a via eleitoral
Que a via eleitoral não é o caminho para se chegar à revolução e ao socialismo parece fora de questão. Os Partidos Comunistas que, a certa altura, sustentaram a tese de uma passagem pacífica ao socialismo pela via eleitoral foram desmentidos veementemente pela história. Lemebremos do exemplo chileno de Salvador Allende, quando esta estratégia foi derrotada e dos vários “surpreendentes” (para os partidos comunistas) golpes militares preventivos pela América Latina, diante de qualquer possibilidade de avanço popular ameaçador.
Com o tempo não havia mais adequação possível: ou se escolhia a via eleitoral ou se escolhia a revolução e o socialismo. Entre aqueles que escolheram a via eleitoral uma espécie de timidez e de oportunismo fez com que parte deles ainda mantivesse o socialismono programa, logicamente descaracterizado de qualquer conteúdo socialista de fato; nestes casos o socialismo ficou relegado apenas a um vago conceito de justiça social, de melhor distribuição de renda ou ainda de uma “socialização das oportunidades” para todos, ou seja, o socialismo tornou-se quase sinônimo de liberalismo. Outros setores mais corajosos simplesmente renegaram o socialismo sem meias palavras e aderiram francamente à social-democracia ou ao (neo) liberalismo.
Uma tática que em fins do século XIX e durante boa parte do século XX, seria penas uma etapa na acumulação de forças dentro de uma estratégia socialista tornou-se absoluta. Neste caso não estamos falando nos termos da velha polêmica Reforma X Revolução, quando ambas eram estratégias sinceras para se chegar ao socialismo. O reformismo alijado do objetivo socialista ganha outro tom: abandonado de fato o socialismo (e é isso que o PT representou) restou a possibilidade de reformas sociais de tom social-democrata dentro da ordem capitalista. Restou a tática, que sem a estratégia, parecia ter se tornado ela mesma estratégia.
Esta opção tornou-se cristalina dentro do PT desde os princípios da década de 1990, e os setores da esquerda do partido jamais conseguiram derrotá-la dentro da legenda, conseguindo apenas fazer avançar mais ou menos o teor das reformas propostas. Deste momento em diante a relação entre via eleitoral e movimentos sociais pendeu definitivamente no cômputo geral a favor da via eleitoral e os movimentos sociais passaram a ser literalmente comandados e domados conforme se adequassem às perspectivas eleitoreiras do PT. Neste marco, permanecer dentro da lei e manifestar-se pacificamente passou a ser a tônica aplicada pelo PT-CUT aos movimentos sociais de forma a não prejudicar o desempenho eleitoral do partido.
O ingresso definitivo do PT na via eleitoral acarretou efeitos maiores ainda sobre o conjunto do partido e dos movimentos sociais por ele dirigidos. Os principais quadros militantes migravam dos movimentos para a política burguesa, a energia gasta com as eleições e com a luta passou a ser cada vez mais desproporcionale as finanças orientadas para as eleições. Não foi e não é raro notarmos o desvio puro e simples de recursos de sindicatos para o financiamento de campanhas partidárias.
Um processo que tem vários precedentes, desde a social-democracia alemã do final do século XIX ocorreu no PT. Os quadros se profissionalizaram, se distanciam da classe: fisicamente, financeiramente e pela nova boa vida burocrática. Passam a ter mais tempo para gerir os assuntos do partido do que os trabalhadores e com o tempo a presença de candidaturas de trabalhadores se reduziu cada vez mais. Chegou o tempo dos candidatos que nasciam e cresciam na burocracia partidária, sem nunca terem passado pelos movimentos sociais.
Este processo que vai do início dos anos 90, e dura cerca de 10 anos, pode ser caracterizado como o abandono das tímidas propostas socialistas e de transformação social mais profunda do PT original para em prol do reformismo puro e simples.
Mas a partir do ano 2000 pode ser identificada uma outra etapa na direitização do PT, que toma forma concreta e pública na campanha eleitoral de 2002, quando a direção nacional, sem debate com a base do partido, publica a Carta ao povo Brasileiro, na verdade endereçada aos capitalistas, que significou um compromisso público do PT de adesão a linha neoliberal. Foi como se dissessem – Não se preocupem, saberemos nos comportar bem!
Esta carta não teve repercussão popular alguma, o tal “povo brasileiro” sequer tinha noção de seu conteúdo e significado político. Ao povo outras “cartas” eram endereçadas. Enquanto alguns revolucionários míopes ainda acusavam o PT de ser “reformista”, o partido já tinha ido muito além, o reformismo fora programaticamente abandonado e o que restava era uma ideologia reformista, no pior sentido que o conceito ideologia pode ter neste caso. Alguns petistas mais lúcidos ao responder sobre a acusação de “reformista” diziam que o medo era que nem isso o PT conseguisse ser. Preocupação ainda tola, porque nem tentou sê-lo. O reformismo social do PT saiu do campo programáticoe tornou-se peça de publicidade na campanha eleitoral. Foi com base nesta imagem reformista, com a promessa de avanços sociais, com a imagem operária, que Lula se elegeu. Em resumo: Lula se elege calçado na imagem daquilo que já não era faz tempo: operário e reformista.
O abandono do reformismo se fez em nome do realismo, não seria possível realizar mudanças significativas na política econômica e social sem quebrar o país e torná-lo vulnerável. Restava amenizar a situação social dentro dos limites dados pelo mercado, o que na prática significou u grande programa nacional que planificasse e institucionalizasse a esmola: o programa Fome Zero. Mas nem isso conseguiram fazer, afinal de contas, acabar com a fome dá prejuízo aos capitalistas.
Não estamos dizendo nada de novo até aqui. Este processo é conhecido por todos e identificado pelas mais variadas correntes da esquerda. São fatos, com os quais muitos concordam, mas o diabo está sempre nos detalhes. Apesar de boa parte da esquerda compartilhar da avaliação de que o PT se encaminhou para via eleitoral, de que se deformou, se endireitou, se burocratizou, abandonou e amordaçou os movimentos sociais, a análise não chega até as últimas consequências. Três problemas tem sido apontados como centrais no quadro atual:
1°) O peso excessivo dado à via eleitoral em detrimento dos movimentos sociais;
2°) Um recuo programático que abriu mão de transformações sociais mais profundas, ou seja, a direitização do partido;
3°) O abandono da ética na política.
Estes três problemas relacionados entre si explicariam as alianças à direita, a manutenção da mesma política econômica de FHC, a timidez das políticas públicas, a corrupção derivada do trato com a direita, etc. Como resposta, os setores da esquerda que se inscrevem atualmente como alternativas ao PT propõem com mais ou menos ênfase:
1) Um programa mais avançado que o do PT;
2) A priorização dos movimentos sociais como campo de luta, subordinando politicamente a atuação eleitoral ao movimento real das classes trabalhadoras;
3) A retomada da ética na política de maneira rigorosa.
Em resumo: faltaria ao Brasil um partido de esquerda que dê mais peso aos movimentos sociais e menos as eleições, que tenha um programa mais avançado e finalmente que seja mais corajoso e ético que o PT. Estes 3 pontos, ainda que genéricos, trazem um aparente consenso entre as esquerdas mais combativas que buscam se rearticular. Resta-nos saber se existe espaço político para a implementação de avanços muito maiores do que Lula realizou? (1) Se é possível tratar as eleições como tática? (2) Se é possível ser ético dentro da política burguesa? (3)
Se tudo isso for possível trata-se apenas de construir ou entrar num partido que tenha este projeto. É o que muitos estão fazendo. Mas essa perspectiva parece tão simplista que é bom abrir bem os olhos diante de saídas aparentemente tão fáceis. O simplismo, sincero ou oportunista, tem lá sua serventia na medida em que oferece uma resposta mais fácil para as pessoas, transmite uma segurança programática que ajuda muito na cooptação de militantes, especialmente aqueles que buscam um porto seguro depois do naufrágio. O desespero pelo vazio político e pela falta de alternativa, a pressa de entrar em algum barco e as vezes certa falta de coragem para realizar a crítica necessária faz com que as pessoas passem muito rapidamente pela análise, tirem conclusões apressadas e caminhem para alternativas mais ou menos cômodas. Resta, assim, analisar a consistência política disso tudo.

http://www.vermelhoenegro.org/fag/leiaformacao.php?titulosel=a9360f19c541aa6e55e9dc8f3c76ff98
Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis

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