Os desafios da luta pela Reforma Agrária
28/03/2008
Em entrevista concedida para o Núcleo Piratininga de Comunicação, Gilmar Mauro, integrante da coordenação nacional do MST, fala sobre as estratégias e desafios para a conquista da Reforma Agrária e da transformação social. Gilmar aponta a necessidade do diálogo entre Universidade e movimentos sociais, fala sobre a criminalização do MST pela grande mídia e as relações entre movimentos do campo e da cidade. Confira.
Por que o MST considera importante participar de atividades dentro da Universidade?
Como falou o professor Marcelo Badaró, a Universidade também é um espaço de luta de classes. O diálogo com a universidade tem o viés de encontrar com pessoas que tem as mesmas posições e aproximar as que já estão no próprio campo da esquerda. É importante trazermos para cá, como contribuição, a realidade objetiva enfrentada fora da universidade, isso faz parte da luta ideológica, como forma de fortalecê-la.
A mídia comercial sempre mostra o MST de uma forma muito ruim, criminalizando-o e fazendo o mesmo com outros movimentos sociais. Como o MST lida com a questão?
Eles [a mídia comercial]estão no papel deles. Seria ilusão imaginar que fariam diferente. Eles vão tratar sempre a luta de classes de forma parcial. Eu admiraria muito o Estadão, por exemplo, elogiando o MST. Aí o MST teria se adaptado e estaria equivocado. A grande mídia reproduz a ideologia do capital e se vê um processo cada vez maior de criminalização da pobreza, dos movimentos sociais, com proliferação de idéias fascistas. Não é um fascismo articulado, mas extremamente preconceituoso com a classe pobre. Temos que construir alternativas, meios alternativos de comunicação e principalmente dialogar com o povo na base, porque isso faz muita diferença. No caso da Venezuela [golpe de 2002], a população se levantou contra a mídia. A organização popular e a comunicação alternativa derrotaram a classe dominante.
Ao contrário da visão propagada pela mídia comercial, existe uma imagem construída do MST não apenas no Brasil mas em toda América Latina como um dos movimentos mais importantes do Brasil. A que você atribui essa contradição de avaliações sobre o MST?
Com certeza não é a propaganda da mídia que contribuiu para essa imagem do MST. Se dependesse deles seríamos anulados ainda nos primórdios do movimento. Para o MST sempre foi fundamental a idéia de que é preciso romper as fronteiras do Brasil e se estender para a América Latina. Foi nesse sentido que criamos a CLOC [Coordinadora Latino-Americana de Organizaciones del Campo] e a Via Campesina. Também sempre procuramos ter um processo de formação política-ideológica para além da luta corporativa, isso aliado à capacidade de desenvolvimento do processo de organização de base. Porque poderíamos ter o melhor programa [político] do mundo, se não tivéssemos força social de nada adiantaria ter esse programa. Então, assim somos parte importante dessa construção histórica da classe trabalhadora. O MST sempre priorizou a construção internacional, dedicamos quadros para isso. Mas não quadros prontos, e sim quadros em formação. Para ser ter uma idéia, um militante nosso só pode fazer duas viagens internacionais por ano. Às vezes é um menino novo, passa muitas dificuldades no aeroporto, não sabe falar inglês, mas isso é importante para o processo formativo dele. Dessa maneira quebramos a lógica de burocracias que se criaram no passado dento da esquerda. É um processo muito mais consistente e com lastro interno, o militante vai e volta e vai trazer a experiência dele para dentro do movimento.
O MST tem expressado já há algum tempo a necessidade da união entre os movimentos do campo e da cidade. Está união está avançando?
Avançamos muito. Sempre achamos que essa aliança é fundamental se quisermos mudar o país. Costumamos dizer que buscamos esse casamento e até colocamos nossa roupa de domingo para o casamento, mas quando chegamos à cidade, na Marcha à Brasília, o movimento operário estava em descenso, menos articulado que o nosso. Aí percebemos que temos que fazer também outros tipos de alianças, com os desempregados, com os movimentos sociais urbanos, nos colocar a disposição para organizar essa aliança. Não como um movimento que sabe tudo, mas com uma disposição para discutir e aprofundar. Não adianta o MST chegar todo organizadinho se a classe trabalhadora urbana não estiver organizada. Assim nós não vamos avançar. O MST não quer estar à frente, nem atrás, mas ao lado, trabalhando junto com a cidade. É um grande desafio. Precisamos avançar nisso. Mas tudo é um processo.
Em entrevista concedida para o Núcleo Piratininga de Comunicação, Gilmar Mauro, integrante da coordenação nacional do MST, fala sobre as estratégias e desafios para a conquista da Reforma Agrária e da transformação social. Gilmar aponta a necessidade do diálogo entre Universidade e movimentos sociais, fala sobre a criminalização do MST pela grande mídia e as relações entre movimentos do campo e da cidade. Confira.
Por que o MST considera importante participar de atividades dentro da Universidade?
Como falou o professor Marcelo Badaró, a Universidade também é um espaço de luta de classes. O diálogo com a universidade tem o viés de encontrar com pessoas que tem as mesmas posições e aproximar as que já estão no próprio campo da esquerda. É importante trazermos para cá, como contribuição, a realidade objetiva enfrentada fora da universidade, isso faz parte da luta ideológica, como forma de fortalecê-la.
A mídia comercial sempre mostra o MST de uma forma muito ruim, criminalizando-o e fazendo o mesmo com outros movimentos sociais. Como o MST lida com a questão?
Eles [a mídia comercial]estão no papel deles. Seria ilusão imaginar que fariam diferente. Eles vão tratar sempre a luta de classes de forma parcial. Eu admiraria muito o Estadão, por exemplo, elogiando o MST. Aí o MST teria se adaptado e estaria equivocado. A grande mídia reproduz a ideologia do capital e se vê um processo cada vez maior de criminalização da pobreza, dos movimentos sociais, com proliferação de idéias fascistas. Não é um fascismo articulado, mas extremamente preconceituoso com a classe pobre. Temos que construir alternativas, meios alternativos de comunicação e principalmente dialogar com o povo na base, porque isso faz muita diferença. No caso da Venezuela [golpe de 2002], a população se levantou contra a mídia. A organização popular e a comunicação alternativa derrotaram a classe dominante.
Ao contrário da visão propagada pela mídia comercial, existe uma imagem construída do MST não apenas no Brasil mas em toda América Latina como um dos movimentos mais importantes do Brasil. A que você atribui essa contradição de avaliações sobre o MST?
Com certeza não é a propaganda da mídia que contribuiu para essa imagem do MST. Se dependesse deles seríamos anulados ainda nos primórdios do movimento. Para o MST sempre foi fundamental a idéia de que é preciso romper as fronteiras do Brasil e se estender para a América Latina. Foi nesse sentido que criamos a CLOC [Coordinadora Latino-Americana de Organizaciones del Campo] e a Via Campesina. Também sempre procuramos ter um processo de formação política-ideológica para além da luta corporativa, isso aliado à capacidade de desenvolvimento do processo de organização de base. Porque poderíamos ter o melhor programa [político] do mundo, se não tivéssemos força social de nada adiantaria ter esse programa. Então, assim somos parte importante dessa construção histórica da classe trabalhadora. O MST sempre priorizou a construção internacional, dedicamos quadros para isso. Mas não quadros prontos, e sim quadros em formação. Para ser ter uma idéia, um militante nosso só pode fazer duas viagens internacionais por ano. Às vezes é um menino novo, passa muitas dificuldades no aeroporto, não sabe falar inglês, mas isso é importante para o processo formativo dele. Dessa maneira quebramos a lógica de burocracias que se criaram no passado dento da esquerda. É um processo muito mais consistente e com lastro interno, o militante vai e volta e vai trazer a experiência dele para dentro do movimento.
O MST tem expressado já há algum tempo a necessidade da união entre os movimentos do campo e da cidade. Está união está avançando?
Avançamos muito. Sempre achamos que essa aliança é fundamental se quisermos mudar o país. Costumamos dizer que buscamos esse casamento e até colocamos nossa roupa de domingo para o casamento, mas quando chegamos à cidade, na Marcha à Brasília, o movimento operário estava em descenso, menos articulado que o nosso. Aí percebemos que temos que fazer também outros tipos de alianças, com os desempregados, com os movimentos sociais urbanos, nos colocar a disposição para organizar essa aliança. Não como um movimento que sabe tudo, mas com uma disposição para discutir e aprofundar. Não adianta o MST chegar todo organizadinho se a classe trabalhadora urbana não estiver organizada. Assim nós não vamos avançar. O MST não quer estar à frente, nem atrás, mas ao lado, trabalhando junto com a cidade. É um grande desafio. Precisamos avançar nisso. Mas tudo é um processo.
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