Em meio à crise do sindicalismo,
centrais defendem a redução de jornada
Discursos contra o governo e críticas aos sorteios e shows das centrais sindicais marcaram ato na Praça da Sé
Cerca de 3 mil pessoas compareceram à Praça da Sé, no centro de São Paulo, para reafirmar o 1º de maio como um dia internacional de luta da classe trabalhadora. Conlutas, Intersindical, MTST, além de partidos como o Psol, PSTU e PCB, iniciaram o ato político às 10 horas, após a celebração de um culto ecumênico organizado pela Pastoral Operária, na Catedral da Sé.
As falas no ato foram marcadas por críticas ao governo federal e clamaram pelo estancamento de prováveis reformas, como a da Previdência. Outro tema recorrente no ato foi a crítica às celebrações da CUT e Força Sindical, que ocorriam simultaneamente nas zonas sul e norte da capital. Os pontos mais criticados foram a despolitização dos atos, os megashows e os sorteios. A CUT não realizou sorteios.
Após a concentração, os manifestantes caminharam até a Praça do Patriarca, em frente à prefeitura. Lá, ataques à política de “higienização do centro” promovida pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) também fizeram parte das críticas vindas do carro de som.
A apresentação do ato ficou por conta de Édson Carneiro, o Índio, da Intersindical. Em uma de suas intervenções, Índio afirmou que o 1º de maio “não pode ser financiado por bancos, como está acontecendo hoje”.
Única presença parlamentar no ato, o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) ressaltou a importância do ato da Praça da Sé, como contraponto aos atos das centrais. “Aqui não tem distribuição de prêmios, nem showzinho de artista famoso. Todos os que estão aqui são de luta”, afirmou. Ivan mencionou a importância da redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, tema que foi eleito como principal pauta das centrais sindicais para 2008.
Sobre as mudanças necessárias para os trabalhadores, o parlamentar afirmou que o título de grau de investimento, concedido ontem ao Brasil, pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, em nada irá alterar a vida dos trabalhadores. “Só vai haver mudança quando suspendermos o pagamento da dívida pública”, defendeu Ivan, que propôs no parlamento uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a dívida pública. A CPI já foi protocolada, mas está atrás na “fila” da agenda da Câmara Federal. O deputado ainda criticou a reforma tributária do governo, que taxa “a renda do trabalhador e o consumo”, mas não incide sobre “a propriedade e as grandes fortunas”.
Histórico
O aniversário de 40 anos do histórico maio de 1968 foi lembrado por muitos. Ivan Valente resgatou um evento promovido pela ditadura militar na mesma praça da Sé. “Naquele dia, os estudantes colocaram o governador Abreu Sodré para correr e puseram fogo no palanque da ditadura”, lembrou. Homenagens aos estudantes Édson Luís e Alexandre Vanucchi Leme, mortos pela ditadura, fizeram parte do discurso de estudantes.
O resgate da tradição internacionalista do 1ºde maio também foi abordado por diversos oradores. A todo momento chegavam ao carro de som informes sobre mobilizações em outros países, como a dos portuários da costa leste dos EUA que realizaram uma paralisação hoje – nos EUA o Dia do Trabalhador não é feriado.
José Maria de Almeida, presidente nacional do PSTU e coordenador da Conlutas, informou aos manifestantes que no Haiti as manifestações do 1° de maio foram proibidas pelas tropas da ONU comandadas pelo exército brasileiro. José Maria pediu uma vaia às tropas e ao governo federal e aplausos para o povo haitiano. Foi atendido.
Representantes da Conlutas e da Intersindical destacaram a importância da unidade de ambas nas lutas contra o governo federal e na disputa de sindicatos “governistas”. Ambas organizações discutem uma possível fusão numa nova central sindical.